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Resumo do Artigo: The autonomic nervous system: A potential link to the efficacy of acupuncture

A acupuntura, uma prática milenar oriunda da medicina tradicional chinesa, tem conquistado cada vez mais espaço no cenário da saúde global. Reconhecendo sua vasta aplicabilidade em diversas condições de saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu-a na Estratégia de Medicina Tradicional 2014–2023, indicando sua utilização em 183 países e regiões. Este artigo se propõe a explorar como as interações entre a acupuntura e o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) oferecem insights sobre a eficácia desse tratamento milenar.

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A terapia acupuntural é estruturada em três processos principais: “sensação”, “transmissão” e “efeito”. Na “sensação”, o estímulo local da acupuntura é percebido e convertido em informação transmitida. Essa percepção varia de acordo com o microambiente do ponto de acupuntura e parâmetros de intervenção. O “efeito”, por sua vez, reflete a resposta nos órgãos alvos e as células, diversificando de acordo com diferentes doenças. No entanto, para que ocorra o efeito terapêutico, é fundamental a “transmissão”, ou seja, a transferência do sinal da acupuntura desde os pontos de aplicação até os órgãos alvo, mediado em grande parte pelo SNA.

A acupuntura tem o poder de ativar nervos aferentes periféricos, enviando informações sensoriais da medula espinhal para o cérebro, onde a integração acontece – o ponto crucial do tratamento. Após a integração cerebral, pode haver modificação dos órgãos alvo por meio da ativação de vias nervosas eferentes ou neuro-endócrinas. No entanto, os mecanismos exatos de integração cerebral e as vias eferentes envolvidas ainda são um campo fértil para a pesquisa científica.

O Sistema Nervoso Autônomo (SNA)

O SNA é um complexo de redes de nervos que atua na regulação de sistemas fisiológicos mantendo a homeostase corporal. Constituído por componentes centrais e periféricos, como o sistema simpático (SS), o sistema parassimpático (SP) e o sistema nervoso entérico (SNE), o SNA é a base para a regulação precisa e ritmada de atividades viscerais que são essenciais para a vida.

Vamos explorar suas partes constituintes:

  • Sistema Simpático (SS): Responsável por preparar o corpo para situações de alerta, ‘luta ou fuga’, aumentando o frequência cardíaca, dilatando os brônquios e liberando glicose para os músculos.
  • Sistema Parassimpático (SP): Atua de forma antagônica ao SS, promovendo ‘repouso e digestão’, desacelerando o coração, estimulando a atividade gastrointestinal e promovendo a economia de energia.
  • Sistema Nervoso Entérico (SNE): Conhecido como o “segundo cérebro”, governa as funções do trato gastrointestinal.

O ANS desempenha papel fundamental em diversas funções orgânicas: regulação da temperatura corporal, equilíbrio dos ritmos respiratórios e cardíacos, controle da digestão, excreção e uma gama de funções imunológicas. Por exemplo, o SNA regula o sistema imunológico ao inervar órgãos como baço, timo e linfonodos e em órgãos como o trato gastrointestinal e o coração por meio de neurotransmissores específicos.

Efeito da Acupuntura no SNA

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Recentemente, estudos têm evoluído na compreensão de como a acupuntura modula o SNA, possibilitando o alívio eficaz de sintomas associados a disfunções neste sistema. Sintomas em condições como enxaqueca, depressão, insônia, dispepsia funcional e constipação demonstraram melhora com a prática acupuntural, sugerindo que a manipulação do SNA pode ser um dos mecanismos pelos quais a acupuntura exerce seus efeitos terapêuticos.

A acupuntura pode regular diversos indicadores fisiológicos mediados pelo SNA, como:

  • Pressão Arterial: A inserção de agulhas em pontos específicos pode levar a uma normalização da pressão arterial, possivelmente através da modulação dos sistemas simpático e parassimpático.
  • Tamanho da Pupila e Condutância da Pele: Reações involuntárias que podem ser afetadas pela acupuntura, indicando uma ativação ou inibição reflexa do SS ou SP.
  • Temperatura da Pele, Frequência Cardíaca e Variabilidade da Frequência Cardíaca (FCV): O FCV é um indicador da capacidade do coração de se adaptar a diferentes situações, sendo influenciado pelo equilíbrio entre as atividades do SS e do SP. A acupuntura demonstrou ser capaz de influenciar a FCV, sugerindo a sua capacidade de equilibrar a atividade do SNA.

A acupuntura também tem demonstrado efeitos no controle de sintomas somáticos e autonômicos, promovendo analgesia e modulando funções autonômicas de maneira não invasiva e sem os efeitos colaterais associados a alguns medicamentos. A prática é complexa e os cientistas estão começando a desvendar como a acupuntura interage com as vias neurais para proporcionar esses efeitos beneficiários. À medida que mais estudos nesta área são realizados, poderemos aprofundar nos mecanismos de ação da acupuntura e potencializar seu uso na prática clínica.

Este artigo técnico longo, escrito em um estilo próprio e detalhado, cobre as primeiras três seções do esboço fornecido – uma introdução à conexão entre acupuntura e sistema nervoso autônomo, uma explanação sobre o SNA e os impactos da acupuntura neste sistema. As informações apresentadas visam fornecer uma discussão embasada e científica para o público interessado em medicina alternativa e em compreender os efeitos físicos da acupuntura.

Mecanismos de Ação da Acupuntura no SNA

acupuntura efeitos centrais

A acupuntura exerce seu efeito terapêutico através de complexas interações com o sistema nervoso autônomo (SNA), capazes de induzir a analgesia e modulação das funções autonômicas. Ao manipular estrategicamente pontos específicos no corpo, a acupuntura pode gerar efeitos sistêmicos com o potencial de restabelecer a homeostase do organismo.

Analgesia

A acupuntura é conhecida por seus efeitos analgésicos, promovendo alívio da dor sem o uso de medicamentos convencionais. Este efeito é atingido através de:

  • Estimulação de Fibras Nervosas: Estímulos acupunturais em determinados pontos ativam fibras nervosas que transportam sinais de dor ao cérebro e medula espinhal, podendo levar à liberação de neurotransmissores e neuropeptídeos, como endorfinas e serotonina, que inibem sensações dolorosas.
  • Modulação das Vias de Dor: O SNA é uma rota vital para a sinalização de dor. A acupuntura pode afetar diretamente essa via, diminuindo a percepção de dor.
  • Efeito sobre o Cérebro: Acredita-se que a acupuntura modifique a atividade cerebral em áreas ligadas à dor e ao desconforto, como o córtex pré-frontal, o córtex cingulado anterior e o hipotálamo.

Sistema Cardiovascular

Várias pesquisas apontam que a acupuntura pode influenciar positivamente o sistema cardiovascular por meio do SNA, melhorando condições como hipertensão e arritmias. Isso é alcançado por:

  • Regulação do Tônus Simpático: Redução do tônus simpático, o que pode ajudar no controle da pressão arterial elevada.
  • Balizamento da Frequência Cardíaca: A influência sobre a frequência cardíaca mostra a capacidade da acupuntura de restaurar o equilíbrio autonômico em pacientes com arritmias.
  • Mitigação de Respostas ao Estresse: Em situações de estresse, o SNA mobiliza o sistema cardiovascular. A acupuntura pode moderar essas respostas, proporcionando um efeito calmante.

Sistema Gastrointestinal

No sistema gastrointestinal (GI), onde o SNA tem uma influência significativa, a acupuntura tem sido associada a benefícios como:

  • Regulação da Motilidade GI: Estimula ou diminui a movimentação do trato GI, beneficiando condições como dispepsia funcional e constipação.
  • Redução de Sintomas Inflamatórios: Influencia células imunes e fatores inflamatórios locais no trato GI.
  • Restabelecimento do Equilíbrio Neuro-Imune: Pode auxiliar na recuperação do equilíbrio do sistema neuro-imune do trato GI, impactado em doenças como síndrome do intestino irritável.

Ação Anti-inflamatória

A literatura sugere que a acupuntura não só alivia sintomas em estados patológicos, mas também possui um papel preventivo, particularmente pelo seu efeito anti-inflamatório. Este efeito ocorre através de:

  • Inibição da Liberação de Mediadores Inflamatórios: O estímulo acupuntural pode reduzir a liberação de substâncias pró-inflamatórias, contribuindo para um ambiente menos inflamado.
  • Modulação do Eixo Neuroendocrino-imune: A acupuntura pode influenciar a interação entre os sistemas nervoso e imunológico, alavancando processos anti-inflamatórios.
  • Estimulação de Vias Analgésicas do SNA: Ao acessar vias analgésicas do SNA, a acupuntura pode reduzir a sensação de dor associada à inflamação.

Discussão e Conclusão

A acupuntura é mais do que uma prática milenar; é uma modalidade terapêutica cada vez mais embasada pela ciência moderna. Os estudos sugerem fortemente que o SNA desempenha um papel crucial na mediação dos efeitos da acupuntura, operando como um eficaz alvo terapêutico para restabelecer a homeostase do organismo.

Está claro que o SNA é influenciado pela acupuntura, mas ainda há muito a explorar sobre os mecanismos precisos envolvidos. Pesquisas futuras devem se concentrar na determinação das regras e padrões que regem a resposta do SNA à acupuntura, o que poderá direcionar melhor a aplicação clínica da prática e possivelmente expandir as suas indicações.

Um entendimento mais profundo sobre a interação entre específicos pontos de acupuntura e a regulação autonômica pode revelar novas abordagens para intervenções médicas, integrando conhecimentos antigos com tecnologias e descobertas atuais, direcionando para uma medicina mais holística e personalizada.

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CRM-SP: 158074 / RQE: 65523 - 65524

Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Área de Atuação em Dor pela AMB. Doutorado em Ciências pela USP. Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP. Diretor de Marketing do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Integrante da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Secretário do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual (SBRET). Professor convidado do Curso de Pós-Graduação em Dor da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Conselho Revisor - Medicina Física e Reabilitação da Journal of the Brazilian Medical Association (AMB).