post-header

A dor na parte interna do cotovelo ao segurar objetos, virar uma chave ou mesmo durante atividades esportivas pode ser sinal de epicondilite medial, popularmente chamada de “cotovelo de golfista”. Trata-se de uma condição dolorosa que afeta os tendões na face interna do cotovelo, geralmente causada por esforços repetitivos ou sobrecarga. Neste texto, vamos entender o que é a epicondilite medial e como a acupuntura – uma técnica milenar – pode ser utilizada para aliviar seus sintomas.

O que é a epicondilite medial?

A epicondilite medial, ou cotovelo de golfista, é uma lesão nos tendões que conectam os músculos do antebraço à parte interna do cotovelo. Apesar do nome “cotovelo de golfista”, essa condição não acomete apenas praticantes de golfe – qualquer atividade que envolva movimentos repetitivos de flexão do punho e do antebraço pode desencadear microlesões nesses tendões ao longo do tempo. Profissões e hobbies como musculação intensa, jardinagem, arremesso de objetos, boliche, tênis (no braço interno), carpintaria ou construção civil são exemplos em que essa região do cotovelo é muito exigida.

Causas:

A causa principal da epicondilite medial é o uso excessivo e repetitivo dos músculos flexores do punho e dedos. Movimentos como girar a palma da mão para cima (pronação) e dobrar o punho para baixo contra resistência podem criar pequenas microrrupturas nas fibras do tendão próximo ao epicôndilo medial (a saliência óssea interna do cotovelo).

Com a repetição contínua, essas microlesões acumuladas levam a um processo de degeneração do tendão (um tipo de “desgaste” conhecido como tendinose). Embora o termo “-ite” sugira inflamação, na epicondilite medial crônica o que ocorre é mais um processo degenerativo do que inflamatório agudo – por isso alguns especialistas chamam de epicondilose ou tendinopatia medial do cotovelo. Ainda assim, pode haver inflamação e dor na fase aguda da lesão, especialmente logo após uma sobrecarga.

Sintomas:

O sintoma mais marcante é a dor na face interna do cotovelo, que pode irradiar pelo antebraço. A dor costuma piorar ao realizar movimentos que ativam os músculos afetados, como apertar objetos, sacudir as mãos, lançar uma bola ou dar uma tacada de golfe. Muitas pessoas relatam sensação de fraqueza no punho e na mão do lado lesionado – segurar uma xícara ou girar a maçaneta pode ficar mais difícil.

Em alguns casos, pode haver formigamento ou dormência que irradia pelo antebraço até os dedos, devido à proximidade do nervo ulnar na região (embora isso seja mais típico de outras condições, como a compressão do nervo cubital). O cotovelo pode apresentar sensibilidade ao toque cerca de 1 a 2 cm abaixo do ossinho interno e, nos casos agudos, pode haver um pouco de inchaço ou calor local.

Acupuntura: conceito e principais tipos

acupuntura2

Acupuntura é uma técnica terapêutica originária da medicina tradicional chinesa que envolve a inserção de agulhas muito finas em pontos específicos do corpo com o objetivo de promover saúde e bem-estar. Esses pontos, segundo a tradição chinesa, estão localizados em linhas chamadas meridianos, por onde fluiria a energia vital (Qi).

Ao estimular os pontos corretos, a acupuntura busca restaurar o equilíbrio do organismo, aliviando dores e tratando diversas condições de saúde. Hoje, a acupuntura é praticada no mundo todo e também estudada sob a ótica da medicina ocidental, com evidências científicas demonstrando seus efeitos biológicos.

Acupuntura tradicional chinesa (corporal):

É a forma clássica de acupuntura, em que agulhas são aplicadas em pontos distribuídos pelo corpo inteiro, principalmente ao longo dos meridianos de energia. O praticante (médico acupunturista ou fisioterapeuta especializado, por exemplo) insere as agulhas em pontos específicos relacionados à condição a ser tratada – no caso do cotovelo de golfista, isso pode incluir pontos no cotovelo, antebraço e também em outras regiões correlatas (como pontos distais no corpo que, segundo a medicina tradicional chinesa, influenciam o meridiano do braço). As agulhas podem permanecer inseridas por alguns minutos (geralmente 20 a 30 minutos por sessão), e o terapeuta pode manipulá-las levemente até o paciente sentir uma leve sensação de peso, dormência ou calor (chamada de Deqi). Essa modalidade é a mais difundida e serve de base para as demais.

Acupuntura auricular (auriculoterapia):

Nessa técnica, as agulhas (ou esferas e sementes adesivas, em algumas versões) são aplicadas em pontos específicos na orelha. A orelha, segundo a auriculoterapia, é um microcosmo do corpo – ou seja, cada ponto auricular corresponde a uma região ou órgão. Existem pontos na orelha relacionados ao cotovelo e aos tendões do braço. Assim, estimulá-los poderia ajudar a aliviar a dor no cotovelo de golfista. A acupuntura auricular costuma ser usada como complemento à acupuntura corporal, potencializando o tratamento da dor e também auxiliando no relaxamento e controle da ansiedade. Uma vantagem é que as sementes ou microagulhas podem ficar fixadas na orelha por alguns dias, prolongando o estímulo terapêutico mesmo fora do consultório.

Agulhamento seco (dry needling ou “acupuntura seca”):

O agulhamento seco é uma técnica que se assemelha à acupuntura tradicional no uso de agulhas, mas difere em conceito e aplicação. Ele é frequentemente realizado por fisioterapeutas e profissionais de reabilitação, focando diretamente em pontos gatilhos musculares (popularmente conhecidos como “nós” de tensão ou pontos de contratura no músculo). No contexto da epicondilite medial, o agulhamento seco pode ser feito na musculatura do antebraço, exatamente nos pontos dolorosos e tensos dos músculos flexores. A palavra “seco” indica que não há injeção de nenhuma substância – é apenas a agulha, semelhante à de acupuntura, inserida no tecido muscular. Ao atingir o ponto de gatilho, frequentemente ocorre um pequeno espasmo ou contração reflexa do músculo. Acredita-se que isso ajude a “desarmar” o ponto de tensão, aliviando a dor e melhorando a flexibilidade muscular. Em termos práticos, o agulhamento seco é considerado por muitos uma forma de acupuntura médica focada em anatomia: em vez de meridianos energéticos, o profissional localiza estruturas musculares e pontos dolorosos palpáveis. Essa técnica tem ganhado popularidade para tendinites e dores musculoesqueléticas, incluindo o cotovelo de golfista, por ser relativamente rápida e frequentemente eficaz no alívio imediato da dor em alguns casos.

Eletroacupuntura:

Aqui, a base é a acupuntura tradicional (agulhas inseridas em pontos do corpo), porém as agulhas são conectadas a um aparelho que emite estimulação elétrica controlada. Pequenos clipes são fixados às agulhas e transmitem correntes de baixa intensidade, fazendo com que o ponto seja estimulado de forma rítmica e contínua. A eletroacupuntura combina os benefícios mecânicos da agulha com a estimulação elétrica, o que pode intensificar os efeitos.

Para dor no cotovelo, por exemplo, o profissional pode inserir duas ou mais agulhas ao redor da área dolorida e conectá-las ao eletroestimulador – o paciente sente um leve formigamento ou pulsação local. Essa técnica costuma ser utilizada para potencializar o efeito analgésico da acupuntura, sendo particularmente útil em dores crônicas mais resistentes. No cotovelo de golfista, a eletroacupuntura pode ajudar a relaxar a musculatura do antebraço de forma mais pronunciada e estimular a recuperação do tendão lesionado, graças ao aumento de circulação sanguínea local provocado pela corrente elétrica suave. Vale destacar que a intensidade da corrente é ajustada de modo confortável para o paciente – não é para causar dor, apenas uma sensação diferente na região.

Como a acupuntura pode ajudar na epicondilite medial? (Mecanismos de ação)

acupuntura ressonancia 1

A acupuntura tem sido estudada extensivamente, e embora ainda existam mistérios sobre todos os seus efeitos, a ciência já elucidou diversos mecanismos fisiológicos pelos quais a inserção de agulhas pode aliviar dores musculoesqueléticas como a epicondilite medial. De forma simplificada, podemos imaginar que a acupuntura atua em múltiplos níveis do corpo – localmente no cotovelo, ao nível dos nervos periféricos, e centralmente no cérebro e medula espinhal. Vejamos os principais efeitos:

Alívio da dor (analgesia) e liberação de neurotransmissores:

Um dos efeitos mais reconhecidos da acupuntura é a capacidade de reduzir a sensação de dor. Quando a agulha estimula determinado ponto, terminações nervosas na pele e músculos enviam sinais ao sistema nervoso central. Em resposta, o cérebro e a medula liberam neurotransmissores e neuro-hormônios que modulam a dor, incluindo endorfinas, encefalinas, serotonina e até substâncias do sistema endocanabinoide. As endorfinas são conhecidas como analgésicos naturais do corpo – elas se ligam a receptores que diminuem a transmissão dos sinais dolorosos, proporcionando alívio.

Esse efeito é comparável, em certa medida, à ação de analgésicos opióides, porém gerado pelo próprio organismo de forma balanceada. Além disso, a acupuntura pode estimular a liberação de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores que influenciam o humor e a modulação da dor, ajudando a diminuir a percepção dolorosa e trazendo uma sensação de bem-estar. Em outras palavras, ao receber acupuntura, o corpo do paciente do cotovelo de golfista passa a “fabricar” um coquetel de substâncias que amenizam a dor e inclusive podem melhorar o estado de espírito, já que dor crônica frequentemente vem acompanhada de estresse e ansiedade.

Bloqueio dos sinais de dor e efeito calmante nos nervos:

Existe uma teoria chamada Teoria do Portão (Gate Control) que explica parte da analgesia da acupuntura. Segundo essa teoria, estímulos sensoriais não-dolorosos (como a picada da agulha ou a sensação de pressão causada por ela) podem “fechar o portão” na medula espinhal para a passagem dos estímulos dolorosos.

Simplificando: os nervos que carregam a informação do toque/pressão competem com os nervos que carregam a informação de dor, e a acupuntura aproveita isso ao ativar fibras nervosas de grosso calibre que inibem a condução da dor nas fibras mais finas. O resultado é que menos sinais de dor chegam ao cérebro provenientes do cotovelo lesionado.

Além disso, a estimulação por agulhas pode reduzir a excitabilidade dos nervos periféricos na região do cotovelo, tornando-os menos sensitivos. Isso explica por que muitos pacientes relatam que, durante e após a sessão de acupuntura, sentem a área “anestesiada” ou bem mais leve, mesmo sem uso de medicamentos.

Melhora da circulação e redução de processos inflamatórios locais:

A inserção de agulhas no corpo provoca pequenas reações locais. O corpo interpreta a agulha como um micro estímulo que precisa ser reparado – mesmo que a lesão da agulha seja mínima, isso é suficiente para desencadear uma resposta de cicatrização. Assim, há liberação de substâncias vasodilatadoras e aumento do fluxo sanguíneo na região. Com mais sangue chegando ao cotovelo, os tecidos recebem mais oxigênio e nutrientes, e os produtos inflamatórios acumulados (que causam dor) são removidos com mais eficiência. Esse efeito é particularmente útil em tendões lesionados, pois tendões têm menor circulação do que músculos – estimular o aporte sanguíneo pode acelerar a recuperação das microlesões.

Além disso, estudos mostram que a acupuntura tem ações anti-inflamatórias mensuráveis: pode reduzir a produção de mediadores inflamatórios como as prostaglandinas (por exemplo, diminuindo a atividade da enzima COX-2) e equilibrar a atuação de células do sistema imune na área afetada.

Há evidências de que agulhas em pontos específicos modulam a atividade de macrófagos e outras células inflamatórias, promovendo uma mudança de perfil – de um estado mais inflamado para um estado de reparação. Em resumo, no cotovelo de golfista isso significaria menos inflamação nos tendões e tecidos ao redor, aliviando a dor e favorecendo a regeneração.

Relaxamento muscular e alívio da tensão:

A dor na epicondilite medial não vem apenas do tendão em si; muitas vezes, os músculos do antebraço ficam cronicamente tensionados em resposta à lesão (um mecanismo de defesa do corpo que pode agravar o problema).

A acupuntura, especialmente com técnicas como o agulhamento seco ou ao atingir os pontos gatilho musculares, induz um relaxamento dessas fibras musculares. Quando a agulha estimula um ponto de gatilho, há aquela pequena contração seguida de um relaxamento reflexo do músculo. Isso pode reduzir a tensão acumulada, melhorar a elasticidade muscular e diminuir a dor provocada por contraturas.

Menos tensão nos músculos flexores significa que o tendão sofre menos tração excessiva no dia a dia, ajudando no alívio global dos sintomas.

Efeitos no sistema nervoso central e bem-estar geral:

Além dos efeitos locais e segmentares (na medula), a acupuntura desencadeia respostas em regiões do cérebro envolvidas na percepção da dor e no processamento emocional. Exames de ressonância magnética funcional já demonstraram que durante a acupuntura há alterações na atividade de áreas cerebrais como o tálamo, sistema límbico e córtex cerebral, relacionadas à modulação da dor. Isso se traduz clinicamente em um efeito analgésico central – o “volume” da dor é abaixado no cérebro – e também em um efeito ansiolítico e relaxante.

Muitos pacientes relatam se sentir mais tranquilos e com melhor qualidade de sono ao longo de um tratamento de acupuntura. Esse aspecto é importante porque dor crônica e estresse formam um círculo vicioso: a dor gera tensão e ansiedade, o que por sua vez piora a percepção da dor. A acupuntura ajuda a quebrar esse ciclo, proporcionando um equilíbrio entre corpo e mente. No caso do cotovelo de golfista, além de diminuir a dor local, o tratamento de acupuntura pode aliviar a tensão geral do paciente, que muitas vezes fica preocupado por não conseguir realizar suas atividades normalmente.

Em suma, os mecanismos da acupuntura no tratamento da epicondilite envolvem aliviar a dor, modular a inflamação e promover o reparo. É como se a acupuntura “lembrasse” o corpo de ativar seus próprios recursos de cura. Não se trata de mágica ou efeito puramente psicológico: há bases fisiológicas sólidas – como a liberação de endorfinas e a melhoria da circulação – que explicam por que muita gente sente alívio real após as sessões.

Evidências científicas recentes sobre acupuntura na epicondilite

Mesmo com tantos relatos positivos e teorias explicando a ação da acupuntura, é natural perguntar: o que dizem os estudos científicos? A boa notícia é que, nos últimos anos, a acupuntura tem sido avaliada em diversas pesquisas para condições musculoesqueléticas, incluindo as tendinites do cotovelo. A má notícia é que, especificamente para a epicondilite medial (cotovelo de golfista), ainda há poucos estudos clínicos diretos, pois grande parte das pesquisas foca na epicondilite lateral (o “cotovelo de tenista”), que é mais comum na população. No entanto, como ambas as condições são similares em natureza (tendinopatias por esforço repetitivo no cotovelo, apenas em lados opostos), muitos achados de estudos com o cotovelo de tenista servem de indicativo do que podemos esperar no cotovelo de golfista.

Vamos analisar algumas evidências relevantes, especialmente publicações dos últimos 5 anos, que envolvem tanto ensaios clínicos (estudos com pacientes tratados e grupo controle) quanto revisões sistemáticas e metanálises (que reúnem dados de vários estudos para chegar a uma conclusão mais robusta):

Acupuntura versus tratamentos convencionais (epicondilite lateral):

Em 2020, foi publicada uma metanálise abrangente que avaliou 10 estudos clínicos randomizados, totalizando quase 800 pacientes com epicondilite lateral (cotovelo de tenista). Essa revisão comparou a eficácia da acupuntura com diferentes tratamentos: alguns estudos compararam com acupuntura “falsa” (sham, em pontos não verdadeiros), outros compararam com medicamentos anti-inflamatórios e alguns com infiltrações (injeções de corticosteroide ou anestésico). Os resultados gerais indicaram que a acupuntura proporcionou alívio de dor superior em curto prazo, em comparação aos grupos controle.

Pacientes que fizeram acupuntura relataram redução mais intensa da dor (medida em escala visual) e melhora da função do braço em atividades cotidianas, quando cotejados com aqueles que receberam apenas medicamentos orais tradicionais ou mesmo comparados aos que fizeram acupuntura simulada. Por exemplo, em dois dos estudos analisados, a acupuntura reduziu a dor de forma mais efetiva do que anti-inflamatórios não esteroidais; em outros, mostrou resultados tão bons quanto ou melhores que infiltrações de corticóide após algumas semanas. Importante destacar: os benefícios foram principalmente de curto prazo (nas avaliações logo após o tratamento e em poucas semanas).

Agulhamento seco e estudos comparativos:

Nos últimos anos, o agulhamento seco ganhou destaque em pesquisas de tendinopatias. Um exemplo é um estudo clínico publicado em 2021 no Journal of Shoulder and Elbow Surgery que comparou diretamente agulhamento seco versus injeção de corticoide em pacientes com epicondilite lateral crônica. Foram 108 pacientes divididos aleatoriamente: metade recebeu sessões de agulhamento seco no antebraço, e a outra metade, uma ou duas infiltrações de corticóide no cotovelo (tratamento convencional para casos resistentes). Após 6 meses de acompanhamento, ambos os grupos apresentaram melhora, mas o grupo do agulhamento seco teve resultados melhores na redução da dor e na recuperação da função do braço.

Revisões sistemáticas recentes (agulhamento seco):

Em 2024, uma revisão sistemática com meta-análise compilou os dados de 17 ensaios clínicos focados em agulhamento seco para epicondilite lateral. Esse trabalho, bastante extenso, analisou quase 1.000 pacientes no total. As conclusões reforçaram a eficácia do método: o agulhamento seco proporcionou reduções significativas na intensidade da dor (especialmente nos primeiros dias e semanas após o tratamento) e melhorias importantes na força de preensão e na funcionalidade do membro superior em comparação com tratamentos convencionais (como fisioterapia isolada, medicamentos ou até outras intervenções).

Em indicadores de incapacidade do cotovelo (questionários preenchidos pelos pacientes sobre dificuldade para usar o braço), quem recebeu agulhamento seco apresentou escores melhores (ou seja, menos incapacidade) do que os grupos controle. Interessante notar que essa revisão identificou que o agulhamento de pontos-gatilho musculares com obtenção de resposta de contração (twitch) foi particularmente eficaz em reduzir a dor – isso valida a abordagem de buscar aqueles pontos dolorosos no músculo e provocar a resposta muscular, como é comum na prática clínica.

Eletroacupuntura e variações:

Alguns estudos também exploraram diferenças entre a acupuntura manual tradicional e técnicas complementares. Por exemplo, há indicações de que a eletroacupuntura pode amplificar certos efeitos. Em um estudo, combinar corrente elétrica às agulhas resultou em alívio da dor comparável ao da acupuntura manual, com possivelmente maior duração.

Outra pesquisa piloto testou uma técnica chinesa chamada fire needling (agulha aquecida) junto com acupuntura normal, obtendo melhora, mas esses são dados iniciais. No geral, nenhuma variação se mostrou drasticamente superior – o mais importante parece ser realizar a estimulação adequada dos pontos, seja de forma manual, elétrica ou através do agulhamento em si. Quanto à acupuntura auricular, especificamente para epicondilite, os dados são mais escassos.

Contudo, em quadros de dor crônica em geral, a auriculoterapia tem demonstrado auxiliar no controle da dor e da ansiedade. É comum que acupunturistas usem a orelha como complemento – por exemplo, colocando esferas em pontos auriculares do cotovelo e do sistema músculo-esquelético – para potencializar o tratamento principal.

Existe estudo específico para cotovelo de golfista?

Até o momento, há poucas pesquisas exclusivas sobre a acupuntura na epicondilite medial. Isso se deve à própria raridade relativa do problema (menos comum que a lateral) e ao fato de muitos estudos agruparem tendinites de cotovelo em geral.

Entretanto, um pequeno estudo de caso publicado por pesquisadores iranianos em 2018 descreveu um atleta com epicondilite medial crônica que teve melhora marcante da dor e da capacidade de movimento após uma única sessão de agulhamento seco, após ter falhado outros tratamentos. Esse é apenas um relato, mas ilustra o potencial. Além disso, médicos do esporte e fisioterapeutas frequentemente relatam experiências clínicas positivas utilizando acupuntura (ou agulhamento seco) para tratar cotovelo de golfista, encurtando o tempo de recuperação e permitindo o retorno mais rápido ao esporte.

Benefícios, limitações e cuidados do uso da acupuntura para epicondilite medial

A seguir, apresentamos um resumo prático dos potenciais benefícios, limitações, riscos e outras considerações ao utilizar a acupuntura (incluindo suas modalidades, como agulhamento seco) no tratamento do cotovelo de golfista:

  • Alívio da dor sem uso excessivo de remédios: A acupuntura pode reduzir significativamente a dor do cotovelo, permitindo que o paciente diminua a dependência de analgésicos e anti-inflamatórios de farmácia. Isso é benéfico especialmente para quem sofre efeitos colaterais com medicamentos ou não pode tomá-los por outras condições de saúde. Com menos dor, fica mais fácil realizar os exercícios de fisioterapia indicados para reabilitar o cotovelo e retomar as atividades diárias normalmente.
  • Melhora da função e qualidade de vida: Além de atenuar a dor, o relaxamento muscular e o aumento de mobilidade proporcionados pela acupuntura podem ajudar o paciente a recuperar a força e a função do braço mais rapidamente. Coisas simples como pegar uma sacola, segurar um copo ou praticar seu esporte favorito tornam-se possíveis sem aquele incômodo constante. Isso tem impacto positivo na qualidade de vida e no humor – afinal, poder usar o braço de forma livre influencia diretamente a autonomia da pessoa.
  • Baixo risco de efeitos colaterais: Quando realizada por um profissional qualificado, a acupuntura é um método muito seguro. As agulhas utilizadas são esterilizadas e descartáveis, reduzindo praticamente a zero o risco de infecções. Diferentemente de medicamentos, a acupuntura não causa efeitos colaterais sistêmicos como gastrite, elevação de pressão ou sonolência. Os eventos adversos mais comuns são leves e locais: às vezes ocorre um pequeno hematoma (mancha roxa) onde a agulha foi inserida, ou uma sensação de cansaço/passividade após a sessão – que muitas pessoas até acham relaxante. Em modalidades como o agulhamento seco, pode haver uma leve dor muscular pós-sessão, semelhante à de um exercício intenso, mas que passa em um ou dois dias. No geral, os riscos são mínimos se comparados a, por exemplo, infiltrações com corticoide (que podem enfraquecer o tendão a longo prazo) ou anti-inflamatórios orais (que podem causar problemas gástricos ou renais em uso prolongado).
  • Caráter complementar e holístico: A acupuntura não precisa (e não deve) ser vista como única solução. Um dos grandes benefícios é que ela pode ser integrada a um programa de tratamento global. Por exemplo, o paciente pode continuar fazendo fisioterapia convencional, alongamentos, usando órteses de proteção no cotovelo, enquanto faz as sessões de acupuntura para controle da dor. Longe de atrapalhar, essas abordagens se somam. A acupuntura também traz um cuidado mais holístico, olhando o paciente como um todo – muitas vezes o acupunturista irá aconselhar sobre hábitos de vida, alongamentos, postura e até alimentação que possam auxiliar na recuperação, indo além do foco apenas no cotovelo.

Limitações da evidência e variabilidade de resposta:

Embora haja evidências positivas, é importante reconhecer as limitações. Os estudos, em sua maioria, mostraram eficácia da acupuntura no curto prazo; os dados de longo prazo ainda são escassos. Algumas pesquisas também notam que não há grande diferença entre acupuntura “verdadeira” e acupuntura simulada em certos casos, levantando questões sobre efeito placebo (por outro lado, outros estudos bem controlados sim encontraram diferença significativa). Além disso, cada organismo responde de forma única: a acupuntura que funciona muito bem para uma pessoa pode ter efeito modesto em outra. Fatores como a gravidade da lesão, o tempo que o paciente convive com o problema e até características individuais (nível de tensão, sensibilidade às endorfinas, etc.) influenciam o resultado. Portanto, nem todos terão uma melhora dramática – para alguns, a diminuição da dor pode ser mais sutil ou exigir mais sessões.

Terapia requer tempo e regularidade:

Ao optar pela acupuntura, deve-se ter em mente que não é uma solução imediata em um único dia (salvo alguns casos excepcionais de melhora rápida). Geralmente são recomendadas múltiplas sessões, por exemplo, 1 a 3 vezes por semana nas primeiras semanas, reavaliando depois de 4 a 6 semanas. Isso demanda um compromisso de tempo e, às vezes, um investimento financeiro, caso o plano de saúde não cubra ou o serviço não esteja disponível no sistema público.

A melhora costuma ser gradual – alívio incremental sessão após sessão. É importante manter expectativas realistas e seguir o plano proposto pelo profissional para colher os benefícios ao longo do tratamento, em vez de desistir precocemente.

Considerações Finais

Em conclusão, a acupuntura se apresenta como uma aliada valiosa no tratamento do cotovelo de golfista. Seus benefícios incluem alívio da dor, melhora funcional e baixo risco, o que pode acelerar o retorno às atividades e melhorar o bem-estar do paciente. Entretanto, é fundamental encará-la de forma realista – como parte de um plano terapêutico integrado, e não uma “cura milagrosa” isolada.

Com expectativas adequadas, orientação profissional e associação a medidas de reabilitação, a acupuntura pode, sim, ajudar quem sofre de epicondilite medial a superar mais rapidamente essa condição incômoda, recuperando a qualidade de vida e voltando às suas ocupações sem dor.

Referências

  • Reece CL, Li D, Susmarski AJ. Medial Epicondylitis. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024. Atualizado em 2 maio 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557869/
  • Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG). Golfer’s elbow: Learn More – The treatment options for golfer’s elbow. InformedHealth.org [Internet]. Atualizado em 15 julho 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK507001/
  • Li N, Guo Y, Gong Y, et al. The anti-inflammatory actions and mechanisms of acupuncture from acupoint to target organs via neuro-immune regulation. Journal of Inflammation Research. 2021;14:7191-7224. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34992414/
  • Zhou Y, Guo Y, Zhou R, et al. Effectiveness of Acupuncture for Lateral Epicondylitis: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Pain Research & Management. 2020;2020:8506591. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32318130/
  • Ma X, Qiao Y, Wang J, et al. Therapeutic Effects of Dry Needling on Lateral Epicondylitis: An Updated Systematic Review and Meta-Analysis. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. 2024;105(11):2184-2197. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.apmr.2024.02.713
  • Uygur E, Aktaş B, Yılmazoğlu EG. The use of dry needling vs. corticosteroid injection to treat lateral epicondylitis: a prospective, randomized, controlled study. Journal of Shoulder and Elbow Surgery. 2021;30(1):134-139. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32950674/
0ae37604e89af20ceb04a8174fec806e?s=150&d=mp&r=g
Website |  + posts

CRM-SP: 158074 / RQE: 65523 - 65524

Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Área de Atuação em Dor pela AMB. Doutorado em Ciências pela USP. Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP. Diretor de Marketing do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Integrante da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Secretário do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual (SBRET). Professor convidado do Curso de Pós-Graduação em Dor da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Conselho Revisor - Medicina Física e Reabilitação da Journal of the Brazilian Medical Association (AMB).