Este é um resumo do artigo “ADVERSE EVENTS ASSOCIATED WITH THERAPEUTIC DRY NEEDLING” de David Boyce e colaboradores. A seguir teremos os principais assuntos abordados no mesmo.
O agulhamento seco é uma técnica utilizada no tratamento de dores musculoesqueléticas. A técnica utiliza uma agulha de filamento sólido fino que penetra a pele para estimular o tecido neuromuscular em pontos gatilhos miofasciais a fim de provocar uma resposta de redução da dor diferente de um anti-inflamatório direto ou resposta muscular mediada pela introdução de uma droga no ponto gatilho.
O agulhamento seco é uma técnica em que se utilizam agulhas de acupuntura, para inativação de pontos gatilhos miofaciais para o alívio da dor.
Existem muitas teorias do porquê que o agulhamento seco funciona, dentre elas acredita-se que a contração involuntária gerada pela inserção da agulha, pode ajudar nas mudanças fisiológicas, como aliviar a atividade elétrica espontânea e reduzir a concentração de substâncias químicas inflamatórias e nociceptivas, relaxando ainda mais o ponto-gatilho.
Não existem muitos estudos em relação aos efeitos adversos do agulhamento a seco, mas há uma abundância deles em relação a acupuntura e os autores relatam como os mais comuns: sangramento, dor, sintomas simpáticos (ou seja, náusea, vertigem, suor). Em raríssimos casos (2) houve um pneumotórax, um evento adverso importante.
Ao examinar especificamente a literatura relacionada aos eventos adversos do agulhamento seco, há apenas um estudo que investigou os eventos adversos menores e maiores associados ao agulhamento seco. Brady e colaboradores pesquisaram 39 fisioterapeutas durante um período de nove meses e registraram todos os eventos adversos que ocorreram durante as sessões de tratamento com agulhas secas.
Eles classificaram os eventos como “leves” ou “significativos”. Exemplos de eventos adversos leves incluem sangramento, hematomas e dor no local de inserção da agulha; enquanto os eventos adversos significativos incluíram pneumotórax ou qualquer outra reação grave ao agulhamento seco. Após registrar 7.629 tratamentos com agulhas secas, Brady e colaboradores descobriram que eventos adversos “leves” ocorreram em pouco menos de 20% do tempo, enquanto nenhum evento adverso “significativo” ocorreu.
Esta única pesquisa encontrada, porém, foi com apenas 39 fisioterapeutas na Irlanda, por isso para expandir esses resultados, Boyce e seus colaboradores realizaram a pesquisa nos Estados Unidos com 420 fisioterapeutas.
A pesquisa
Os pesquisadores definiram como efeito adverso “qualquer efeito prejudicial, não importa quão pequeno, que seja não intencional e não terapêutico”. Como não há uma definição padrão para os efeitos que ocorrem no agulhamento seco especificamente, eles optaram por adaptar as definições do trabalho de White e colaboradores e Brady e colaboradores.
Foi utilizado um formulário com questões para 420 fisioterapeutas. Os eventos adversos foram divididos em duas categorias: eventos adversos menores e eventos adversos maiores. Um “evento adverso menor” é operacionalmente definido como de curto prazo, leve, não sério, e a função do paciente permanece intacta com consequências de curto prazo que duram horas ou alguns dias como: sangramento, hematomas e dor durante ou após o tratamento.
Os principais eventos adversos são operacionalmente definidos como “eventos de médio a longo prazo, moderados a graves que podem exigir tratamento adicional e podem ser graves e angustiantes durante dias ou semanas”.
Exemplos de reações adversas principais são pneumotórax, lesão nervosa, infecção ou exacerbação excessiva dos sintomas.
Discussão dos resultados
Neste estudo, 36,7% dos 20.464 tratamentos com agulhas secas resultaram em um efeito adverso menor, enquanto vinte eventos adversos maiores ou <0,1% foram relatados. Os EA menores mais comumente relatados incluíram sangramento (16,0%), hematomas (7,7%) e dor (5,9%) durante o tratamento. Todos esses efeitos adversos menores são típicos e são respostas esperadas a uma picada de agulha.
Os eventos adversos maiores mais comuns foram agravamento prolongado dos sintomas (0,03%), desmaios (0,02%) e agulhas esquecidas (0,01%). O segundo efeito adverso maior mais comum foi o relato de sensação de desmaio, desmaio e náusea, queixas comuns associadas a respostas vaso vagais visto em pacientes submetidos a procedimentos que envolvem uma picada de agulha. Quase 10% de todos os pacientes relatam medo de agulhas.
Além disso, foi relatado que 10% dos pacientes que receberam uma injeção relataram sensação de desmaio e quase metade desses indivíduos relataram perder a consciência durante uma injeção.
Mesmo que os resultados desse estudo indicam que apenas 1% dos pacientes experimentaram uma resposta vaso vagal, os médicos devem estar preparados para controlar e responder às respostas vaso vagal para proteger seus pacientes de possíveis lesões. O terceiro maior efeito adverso mais comum foi uma agulha esquecida.
Conclusão
Esta pesquisa teve algumas limitações como, com base no desenho de autorrelato deste estudo e na maneira como a participação do sujeito foi solicitada, ele pode estar sujeito a não responder e ter um viés de auto seleção.
Além disso, a taxa de resposta geral do estudo foi de 3% e, embora houvesse um número substancial de sessões de tratamento realizadas, uma baixa taxa de resposta foi uma limitação do recrutamento de participantes por conveniência. Portanto, os resultados não podem ser generalizados para todos os fisioterapeutas que praticam agulhamento a seco.
Estudos futuros devem considerar a comparação de eventos adversos relatados pelo terapeuta com eventos adversos relatados pelo paciente, o que pode resultar em relatórios mais precisos de efeitos adversos e relatórios de risco.
A segurança do paciente e do médico é de suma importância ao avaliar o risco e a recompensa potencial de uma intervenção. De acordo com os achados deste estudo, os efeitos adversos menores esperados, como sangramento leve, hematomas e dor durante o agulhamento seco, são comuns e os efeitos adversos maiores são raros.
Profissionais de precisam estar cientes desses riscos e entender que agulhas secas causam poucos danos ao paciente nas mãos de um médico habilitado.
CRM-SP: 158074 / RQE: 65523 - 65524
Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Área de Atuação em Dor pela AMB. Doutorado em Ciências pela USP. Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP. Diretor de Marketing do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Integrante da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Secretário do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual (SBRET). Professor convidado do Curso de Pós-Graduação em Dor da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Conselho Revisor - Medicina Física e Reabilitação da Journal of the Brazilian Medical Association (AMB).