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A acupuntura vem sendo amplamente utilizada como terapia para prevenção e tratamento de enxaquecas. No entanto, seu mecanismo de ação não está completamente elucidado, pois enquanto alguns estudos sugerem que o efeito antiinflamatório da acupuntura ocorra pela liberação de neuropeptídeos de terminações nervosas, outros sugerem que a acupuntura exerce efeitos analgésicos através do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal e do sistema opióide endógeno, que são importantes mediadores da resposta à dor.

Na pesquisa de acupuntura, a acupuntura verdadeira é muitas vezes comparada à acupuntura simulada, ou placebo, uma prática que pode ser realizada de diferentes maneiras: falta de penetração da agulha na pele, penetração rasa da agulha, inserção em pontos não tradicionais de acupuntura, ou não atingindo o “deqi”, que é uma resposta esperada do agulhamento (sensação subjetiva de calor local), considerada um elemento integrante do processo de cura. 

Estudos recentes mostraram que a acupuntura é mais efetiva que a acupuntura simulada e até mesmo mais eficaz que o tratamento farmacológico profilático para enxaquecas, com menor incidência de eventos adversos. Nesse sentido, a revisão sistemática de Zhang et al de dados de estudos randomizados buscou comparar a eficácia do tratamento de acupuntura com a terapia convencional medicamentosa para prevenção da enxaqueca.

Para tanto, incluiu 7 ensaios clínicos originais e randomizados em adultos que tiveram um diagnóstico de enxaqueca crônica ou episódica. Os tratamentos envolveram a inserção de agulha em pontos de acupuntura, pontos de dor e pontos de gatilho. No entanto, os trabalhos apresentaram heterogeneidade nos grupos controle, pois alguns utilizaram acupuntura simulada, enquanto outros utilizaram um comparador ativo, isto é, um grupo que recebeu tratamento eficaz ou potencialmente eficaz, sendo no caso medicamentos. 

Em relação ao tratamento com acupuntura, o período de tratamento variou de 4 a 24 semanas, e o número total de sessões do tratamento variou de 8 a 24 sessões com variação média de 0,5 a 3,5 sessões por semana. Os principais resultados encontrados foram a redução na frequência de crises de enxaqueca por mês, diminuição pela metade no número de dias com enxaqueca e maior redução da intensidade da dor no grupo que recebeu acupuntura em comparação aos demais grupos controle utilizados. Além disso, a acupuntura resultou em menos eventos adversos que o tratamento farmacológico convencional.

O objetivo desta revisão foi utilizar dados já disponíveis para formular um resumo prático da efetividade do tratamento com acupuntura para médicos e pacientes. Sendo assim, a análise mostrou que a terapia é segura e sugere maior eficácia da acupuntura em relação ao tratamento padrão da enxaqueca. No entanto, a heterogeneidade e variabilidade dos protocolos observados trazem à tona a questão mais ampla de como o estudo da acupuntura pode ser padronizado, uma vez que a falta de uniformidade dificulta a reprodutibilidade dos estudos.

Segundo a medicina tradicional chinesa, a enxaqueca é uma desordem complexa e permite vários diagnósticos possíveis. Por conseguinte, o tratamento é individualizado e não é uma intervenção que pode ser padronizada com facilidade. A seleção dos acupontos é extremamente variável e sua escolha depende dos sintomas apresentados pelo paciente. Logo, é necessária investigação da diferença entre a acupuntura individualizada e padronizada.

Ademais, este trabalho levanta a questão da importância da escolha dos grupos controle. Estudos prévios mostraram que a acupuntura simulada pode ser tão efetiva quanto a acupuntura verdadeira no tratamento da enxaqueca. Isso porque qualquer intervenção que envolva penetração da pele não pode ser considerada um placebo inerte. Ainda que não utilize agulha específica para acupuntura ou os acupontos tradicionais, a prática pode induzir uma ampla gama de resposta fisiológicas periféricas, segmentarem e centrais em um grau imprevisível. Por conta disso, pode ser mais propícia, em estudos futuros, a comparação da acupuntura com terapias padrão, em vez de compará-la com a acupuntura simulada.

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CRM-SP: 158074 / RQE: 65523 - 65524

Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Área de Atuação em Dor pela AMB. Doutorado em Ciências pela USP. Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP. Diretor de Marketing do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Integrante da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Secretário do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual (SBRET). Professor convidado do Curso de Pós-Graduação em Dor da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Conselho Revisor - Medicina Física e Reabilitação da Journal of the Brazilian Medical Association (AMB).