Leonid Kalichman e Simon Vulfsons realizaram uma revisão sobre o assunto e aqui apresentaremos alguns pontos do artigo e o real impacto deste tratamento alternativo a dor musculoesquelética.
A dor musculoesquelética
A dor muscular é muito comum, está associada geralmente a um ponto gatilho miofascial, um local específico que gera dor ao ser estimulado. Esse ponto é hiperirritável e atinge uma longa faixa de fibras musculares; quando tocado gera uma resposta reflexa e o individuo relata dor.
Nos Estados Unidos a maioria dos casos estudados em clínicas especializadas no tratamento da dor, neurologistas que atuam em centros médicos e até em consultórios odontológicos onde os pacientes relatavam dores crônicas na cabeça e pescoço, revelaram que a fonte primária da dor miofascial são os pontos gatilho.
Apesar dos números mostrarem o ponto gatilho miofascial como causa primária da dor musculoesquelética, geralmente ele não é diagnosticado o que leva o paciente a um quadro crônico.
Dry needling ou agulhamento seco
Com o objetivo de aliviar a dor miofascial crônica existem diversos métodos não invasivos, como massagens, alongamentos, laser terapia, estimulação neural transcutânea, dentre outros, porém nenhum deles foi aceito universalmente como um método eficaz contra este mal.
Um outro modo de realizar o tratamento é o agulhamento seco (é uma forma de acupuntura médica baseada na medicina ocidental), é um método minimamente invasivo onde uma agulha de acupuntura é inserida diretamente no ponto gatilho miofascial. A técnica é simples e aprendida em pouco tempo, com conhecimento de anatomia básica o profissional consegue encontrar os pontos de inserção da agulha, que se encontram em faixas do músculo esquelético.
Apesar de receber esse nome recentemente, a técnica em si é praticada a muito tempo. Um método parecido era praticado no século VII por um médico chinês chamado Sun Sso-Mo, que inseria agulhas em pontos de dor, hoje ao ler sobre esses pontos claramente vemos que eram pontos gatilho miofasciais.
Além deste médico ao longo do tempo diversos estudos clínicos indicavam que ao usar injeções, seja com princípios ativos, seja com placebos, o estímulo mecânico em si era o maior responsável pelo alívio da dor.
O procedimento realmente é eficaz?
Muitos pacientes apresentaram melhoras significativas com esse tratamento, porém a hipótese de que existe um efeito placebo não foi refutada nem confirmada. O problema é que não há um controle bem definido entre os estudos. Alguns tinham amostras pequenas, outros não confirmaram o diagnóstico de pontos gatilhos como causa primária da dor. Além disso, os tratamentos divergiam entre si quanto ao local de colocação da agulha, profundidade da inserção, tempo e quantidade de sessões aplicadas.
Portanto por existir uma quantidade grande de estudos que apontam a melhora da dor quando o tratamento é aplicado, são necessários estudos com controles bem definidos para a confirmação da eficácia do dry needling além do placebo.
Já em comparação a profundidade da aplicação da agulha, há um consenso. Tanto o agulhamento profundo quanto o superficial, possuem efetividade, porém no longo prazo, o agulhamento profundo supera o superficial em relação a analgesia.
Além do ponto gatilho, evidências sugerem que o músculo paravertebral que é inervado pelo mesmo segmento de nervos que o músculo dolorido, deve ser incluído no agulhamento seco para um tratamento mais eficaz. Mas para corroborar com essas evidências é necessário um estudo com mais amostras.
Existem efeitos adversos do agulhamento seco?
Os efeitos adversos da acupuntura são similares ao agulhamento seco, mas há efeitos associados especificamente a ele, como dor após a sessão, hemorragias locais próximas ao local de inserção da agulha e episódios sincopais. Médicos alemães relataram que 8,6% dos pacientes experimentaram pelo menos 1 efeito adverso. O efeito mais comum é o sangramento ou hematoma, seguido de dor.
Mas todos os efeitos são leves, os mais significantes demoram entre 1 e 2 semanas para desaparecer, portanto este é um tratamento seguro.
Por que escolher esse método?
O agulhamento seco é um tratamento minimamente invasivo, barato, com baixo risco e fácil de aprender. Seus efeitos já foram confirmados e pode ser utilizado como parte de uma estratégia com mais de um tratamento.
Vale ressaltar que, segundo os autores, o agulhamento profundo é a melhor escolha, porém em áreas com que tem mais riscos de apresentarem efeitos adversos, como pulmões e grandes vasos, a técnica superficial é melhor já que ela também apresenta bons resultados, mesmo que não tão extensos quanto o profundo.
Existe ainda uma lacuna para se conhecer a etiologia do ponto gatilho miofascial e como a dor é desenvolvida. Mais pesquisas também precisam investigar a efetividade do agulhamento seco superficial e confirmar se o tratamento com o agulhamento nos músculos paravertebrais com os pontos gatilhos é mais eficaz do que utilizar a técnica apenas nos pontos gatilhos miofasciais.
CRM-SP: 158074 / RQE: 65523 - 65524
Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Área de Atuação em Dor pela AMB. Doutorado em Ciências pela USP. Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP. Diretor de Marketing do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Integrante da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Secretário do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Presidente do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual (SBRET). Professor convidado do Curso de Pós-Graduação em Dor da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Conselho Revisor - Medicina Física e Reabilitação da Journal of the Brazilian Medical Association (AMB).
